segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

eletrodomesticado


com sua permissão, grande poeta e amigo Geraldo Trombin

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

vida em flor



Enquanto eu te esperava
tinha a alma seca e 
os olhos cerrados
na areia do deserto.
A dor me obrigava a algum movimento
para  aliviar o desconforto.
Tão sábia essa dor,
que, num espasmo,
me fez abrir os olhos.
E ao vê-la em convulsão,
chorei.
As lágrimas inundaram minha alma
e num suspiro,
meu coração reviveu.
A dor se foi na correnteza.
Onde era deserto,
hoje sou jardim.


foto: Ugo Perissinotto

domingo, 23 de janeiro de 2011

rústica vida



Tenho uma relação íntima
com margaridas e girassóis.
Eles me dizem que a vida é simples,
que o amor é rústico
e se veste
sensualmente,
querendo ser despetalado,
em desfrute.

foto: minha 

pensamento do dia



“Quando você atinge o controle dos sentidos, a purificação da mente, a concentração e o silêncio interior, o que inicialmente surgiu como uma necessidade lógica torna-se evidente mais tarde, na consciência purificada, como uma Vontade Positiva Permanente Impessoal (Prajnaanam Brahma). Através da prática incessante da Verdade, Retidão e Coragem, a Divindade em repouso no indivíduo será induzida a se manifestar na vida diária, transformando cada dia na alegria de amar verdadeiramente. Conheça a Suprema Realidade, respire-A. Banhe-se Nela. Viva Nela. Então Ela se torna tudo de você e você se torna completamente Divino.”

Sathya Sai Baba

foto: Ugo Perissinotto

sobre o amor e a mágoa

"Todos os problemas mais intratáveis nos relacionamentos humanos podem remontar ao que chamo clima de desamor- uma suspeita profundamente arraigada, que a maioria de nós abriga dentro de si, de que não podemos ser amados, ou não somos passíveis de ser amados, justamente por sermos quem somos. Essa insegurança básica dificulta a confiança em nós mesmos, nas outras pessoas, ou na própria vida. Não saber, em nosso íntimo, que somos realmente amados ou passíveis de ser amados destrói nossa capacidade de dar e receber amor livremente. ...
Quando você reconhece que a beleza absoluta que há dentro de si não pode ser maculada por suas falhas, então essa criatura bela que você é pode começar a cuidar da fera que às vezes parece ser. O toque da beleza começa a enfraquecer as defesas tortas da ferocidade. Desse modo, você começa a descobrir que a bela e a fera andam de mãos dadas. A fera é, na verdade, nada mais do que a beleza ferida. É a beleza que perdeu a fé em si mesma porque nunca foi totalmente reconhecida. ...
Se o grande amor é como o sol, nossa mágoa é uma camada de nuvem que bloqueia temporariamente seus raios. Felizmente, assim como o sol não pode ser danificado pelas nuvens, nossa capacidade inata para o afeto e para a receptividade não pode ser destruída.... a cura da mágoa com relação ao amor implica nos tornarmos disponíveis ao sol, para que ele possa fazer o que naturalmente quer fazer: brilhar sobre nós."

John Welwood - no livro AMOR PERFEITO RELACIONAMENTOS IMPERFEITOS - CURANDO A MÁGOA DO CORAÇÃO. Ed. Gaia.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

calmaria




Pássaros passam pela minha janela
cantando a estação.
A chuva parou.
O céu ainda não sabe se ri,
ou, se chora.
A tarde é calma,
lúcida.
As palavras dançam na sala.
Ora, escapam,
como a lucidez da tarde,
como a vida.


foto: Ugo Perissinotto


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

o que faz sentido



Quase nada faz sentido.
Aliás, o sentido da razão
não faz sentido,
tem razão.

A insanidade se justifica
nas entrelinhas
da falsa loucura,
na vitimização.

A loucura, não.
Ela é soberana.
Encontra o seu sentido
no equilíbrio do sentir.

A insanidade adoece,
esvaece a alma.
A loucura a acorda
e a harmoniza.


foto: Ugo Perissinotto -  "equilíbrio" - detalhe de uma gôndola em Veneza

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

insana insônia



Estalidos crepitantes
do lado de fora,
chuva.

Agudo assobio
no silêncio do quarto,
eco.

Serena voz
nos ouvidos,
a sua.

Cadência de amor
no  peito,
coração.

Sons, sensações
no vazio insípido,
insana insônia.




foto: Ugo Perissinotto

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Poesia, segundo Shelley


A Poesia é, na verdade, algo de divino. É, simultâneamente, o centro e a circunferência do conhecimento...É, ao mesmo tempo, a raíz e a flor de todos os outros sistemas do pensamento; é aquilo de onde tudo emerge e que tudo adorna...É a perfeita e consumada face e lustre de todas as coisas...A poesia não é, como o raciocínio, uma força para ser exercida conforme a determinação da vontade. Ninguém pode dizer: "Vou compor poesia". ..o espírito em criação é como brasa que vai arrefecendo e que uma influência invisível, qual vento inconstante, desperta para um brilho transitório; esta força surge de dentro, como a cor de uma flor que desmaia e muda à medida que vai crescendo."


Percy Bysshe Shelley

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O tamanho da vida




Meu espaço é pequeno
entre paredes e janelas.
De um lado nasce o sol, poderoso.
Do outro, ele se vai, preguiçoso.
Vejo a lua minguar, crescer
e ser a dama da noite, na sua plenitude.
Espaço  pequeno, mas que acolhe...
Uns que filosofam,
outros que cantam,
uns que fotografam,
outros que escrevem.
Istas e Ores, que entre risos
se fazem, da sensiblidade, senhores.
Aqui se pode brincar com as palavras,
rimas e versos,
fazer bruxarias silabando
e meditar tamborilando 
em 5-7-5.
As janelas são tão grandes
que por elas se pode ver o mar,
navegar e voar.
A vida tem o tamanho
na medida certa,  
do que eu quero
e gosto.




foto minha : gaivota no mar de Veneza



Pelo tempo que durar - Marisa Monte

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

barquinhos de jornal 2 - no porto


enxurradas
correntezas
rios
mares
oração de criança
com  c  d  coração
 luz da estrela
guia
barquinho atraca
c'è il porto 


foto: Ugo Perissinotto - porto a campagna




segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

barquinhos de jornal


sonhos que sonho
pedalando pelo campos
a chuva leva


Palavras perdidas num dia de chuva,
me lembram os barquinhos de jornal
que eu fazia na infância.
Eu os colocava na enxurrada da rua,
feliz por vê-los seguirem seus caminhos,
às vezes turbulentos.
Imaginava sempre alguém os resgatando
e pensava, depois, por quais mares navegavam.
Cada dia de chuva era sempre uma viagem.
A enxurrada, quanto mais forte,
mais minha imaginação viajava.
Meu coração navegava seguro
nas palavras perdidas, contidas
nos barquinhos de jornal.
Eu acreditava.
Haveria sempre um rio, depois um mar.
Haveria sempre um lugar pra chegar.
Haveria sempre alguém pra resgatar
as palavras perdidas na enxurrada,
nos dias de chuva.


foto: Ugo Perissinotto

  


domingo, 2 de janeiro de 2011

o seu santo nome


Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.



Carlos Drummond de Andrade

o meu amor



O meu amor
tem olhar iluminado
clareia  mares,
montanhas e lagos.

O meu amor
tem mãos de seda,
voz de veludo,
beijo de beija flor.

O meu amor
voa  livre, passarinho,
alcança estrelas
toca a lua com carinho

O meu amor
é forte como o vento,
tem gosto de mel,
de fruta no tempo.

foto: Ugo Perissinotto