quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Novos caminhos



"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
que já têm a forma do nosso corpo...
e esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares...
É o tempo da travessia...
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado para sempre
à margem de nós mesmos".

Fernando Pessoa

...............

domingo, 20 de dezembro de 2009

poema maior

SONETO DA FIDELIDADE
Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

alegria


alegria é ter a filha em casa,
uma enorme bagunça no quarto
poder deitar na cama junto,
de manhâ,
lamber a cria e pedir:
"deixa eu pegar na sua mão...."
como era antes, pra dormir.
...e ter a mão.
quem será que não dormia
se não pegasse a mão?
nem sei se era eu,
que reclamava,
coisas de mãe...
mas adorava ,
me sentia a mãe maior.
ou se era você,
que queria,
porque queria
e não dormia.
filhos querem,
apenas querem.
dormir com a mão...
dada, acariciada,
segura.
um cais.
hoje,
dar as mãos,
lamber a cria na cama
que alegria!!!!!!!!!!!!!
um cais.
coisas de mãe.
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

esconde esconde


Bate cara
até 100,
corre, encontra,
volta.
Bate o pique 1,2,3
enquanto um vai,
outro vem.
Bate o pique 1,2,3
Nem sempre quem vai,
volta.
Às vezes quem vem,
vai.
É sempre um corre corre.
Quem brinca
sempre aparece.
Bato o pique 1,2,3.

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Contador de histórias


(praia de Bibione - Itália - foto de Ugo)

Sua mente viaja
como um veleiro no mar.
A vela calma,
balança no vento.
Atravessa as ondas,
encontra pescadores,
inventa uma ilha,
sabe o cais.

E nele encontra o sentido
pleno de ser.

Sua mente viaja...
segue o caminho do vento.
Como uma nave,
encontra as estrelas...

Suas palavras,
claras,
certeiras como a flecha
do arqueiro,
sagitário,
encontram os corações.
Contam histórias,
armam ciladas,
resgatam vidas que revivem no silêncio.
Criam e recriam a emoção.

Seu coração é forte,
doce.
Tem açúcar , tem afeto.
Brinca,
canta e encanta.

Auguri!

.......dedicado ao meu amigo Ugo, no seu aniversário.

NÓ (S)



A garganta aperta,
engole seco,
cala.
O peito espreme
a espera.
Escorre...
o sumo do desejo.
O estômago
frio
sobe
sofre.
Indigestão
das palavras não ditas,
malditas (!),
mal passadas,
com tempero agridoce
do amor temporão.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ode à Poesia - Pablo Neruda



Perto de cinqüenta anos
caminhando
contigo, Poesia.
A princípio
me emaranhavas os pés
e eu caía de bruços
sobre a terra escura
ou enterrava os olhos
na poça
para ver as estrelas.
Mais tarde te apertaste
a mim com os dois braços da amante
e subiste
pelo meu sangue
como uma trepadeira.
E logo
te transformaste em taça.
Maravilhoso
foi
ir derramando-te sem que te consumisses,
ir entregando tua água inesgotável,
ir vendo que uma gota
caia sobre um coração queimado
que de suas cinzas revivia.
Mas
ainda não me bastou.
Andei tanto contigo
que te perdi o respeito.
Deixei de ver-te como
náiade vaporosa,
te pus a trabalhar de lavadeira,
a vender pão nas padarias,
a tecer com as simples tecedoras,
a malhar ferros na metalurgia.
E seguiste comigo
andando pelo mundo,
contudo já não eras
a florida
estátua de minha infância.
Falavas
agora
com voz de ferro.
Tuas mãos
foram duras como pedras.
Teu coração
foi um abundante
manancial de sinos,
produziste pão a mãos cheias,
me ajudaste
a não cair de bruços,
me deste companhia,
não uma mulher,
não um homem,
mas milhares, milhões.
Juntos, Poesia,
fomos
ao combate, à greve,
ao desfile, aos portos,
à mina
e me ri quando saíste
com a fronte tisnada de carvão
ou coroada de serragem cheirosa
das serrarias.
Já não dormíamos nos caminhos.
Esperavam-nos grupos
de operários com camisas
recém-lavadas e bandeiras rubras.

E tu, Poesia,
antes tão desventuradamente tímida,
foste
na frente
e todos
se acostumaram ao teu traje
de estrela cotidiana,
porque mesmo se algum relâmpago delatou tua família,
cumpriste tua tarefa,
teu passo entre os passos dos homens.
Eu te pedi que fosses
utilitária e útil,
como metal ou farinha,
disposta a ser arada,
ferramenta,
pão e vinho,
disposta, Poesia,
a lutar corpo-a-corpo
e cair ensangüentada.

E agora,
Poesia,
obrigado, esposa,
irmã ou mãe
ou noiva,
obrigado, onda marinha,
jasmim e bandeira,
motor de música,
longa pétala de ouro,
campana submarina,
celeiro
inextinguível,
obrigado
terra de cada um
de meus dias,
vapor celeste e sangue
de meus anos,
porque me acompanhaste
desde a mais diáfana altura
até a simples mesa
dos pobres,
porque puseste em minha alma
sabor ferruginoso
e fogo frio,
porque me levantaste
até a altura insigne
dos homens comuns,
Poesia,
porque contigo,
enquanto me fui gastando,
tu continuaste
desabrochando tua frescura firme,
teu ímpeto cristalino,
como se o tempo
que pouco a pouco me converte em terra
fosse deixar correndo eternamente
as águas de meu canto.

....presente da minha amiga Soraya.
adorei so.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Vendedor de Sonhos


( foto de Ugo )


Vendedor de sonhos
tenho a profissão viajante
de caixeiro que traz na bagagem
repertório de vida e canções
E de esperança
mais teimoso que uma criança
eu invado os quartos, as salas
as janelas e os corações
Frases eu invento
elas voam sem rumo no vento
procurando lugar e momento
onde alguém também queira cantá-las
Vendo os meus sonhos
e em troca da fé ambulante
quero ter no final da viagem
um caminho de pedra feliz
Tantos anos contando a história
de amor ao lugar que nasci
tantos anos cantando meu tempo
minha gente de fé me sorri
tantos anos de voz nas estradas
tantos sonhos que eu já vivi
............................

Milton Nascimento / Fernando Brant

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ESPELHO


Diante da verdade
Nua, dura, crua,
forte,
ter a sorte
de ainda refletir doçura
Encarar o medo,
tremer,
mas não endurecer.
Enxergar o bem, além.
sonhaaaar......
não falar,
nem escutar.
Apenas olhar
Sentir
Sorrir
Respeitar
Gostar!!
E cuidar,
bem cuidar,
do que está além da imagem
Escancaradamente só.

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Até as formigas precisam enfrentar as enchentes!


De carreirinha

Era um menino comprido e quieto, com os joelhos sempre lascados. Moravam na mesma viela.

Ela gostava do jeito dele desengonçado de jogar "Betsi". Deixou de odiar os seus próprios óculos em razão dos óculos de tartaruga dele, horríveis! Até do seu estrabismo deixou de ter vergonha. Ele era, literalmente , vesgo, com ou sem óculos, o olho direito sempre olhando o esquerdo. Ela não! De óculos, seu olhos ficavam certinhos.

Com ele aprendera a o significado de "carreirinha".

A casa dela era rodeada por uma espécie de jardim silvestre. Ele passava metade do seu tempo lá a olhar as formigas, as suas formigas - era o seu formigueiro de estimação.

Ter cachorro, mesmo um vira-lata, era um privilégio e esse, um sonho como tantos outros que a criança pobre aprende a ter, sem querer.

Ele ficava horas olhando as formigas e, vez por outra, quando percebia uma formiguinha carregando uma folha com dificuldade, com delicadeza pegava a folhinha e a colocava na porta do formigueiro. Era estranho o seu riso nessas ocasiões. Um riso curto. Ria rápido, como se a alegria tivesse hora certa, que viesse, mas que fosse logo.

Ela não entendia muito direito aquele amor, aquela dedicação, aquele cuidado. Mas respeitava.

Uma tarde perguntou:

- Que tanto olha o formigueiro?

- Eu gosto, só isso.

Respondeu sem olhar, de pronto, e continuou de cócoras.

- Porquê você gosta tanto de formigas?

- Porque fui gostando, de carreirinha. Vivem quinem a gente, de carreirinha. Trabalham, correm daqui e dali, e chuva vem...

- Mas a chuva mata todas.

- Mata, mas não tudo. Sobra um pouco. Um dia achei que o formigueiro tinha sumido na enchente. Quando secou. vi uma formiguinha quase afogada. Fiquei olhando ela um tempão. Tava fraquinha mesmo. Depois, foi andando, foi ficando mais fortinha. Achou uma folhinha, foi carregando, indo, de carreirinha. Uns dias depois já tinha de novo o meu formigueiro.

Passou a estar com ele e com as formigas e a vigiar o céu na busca de nuvens de chuva. Chuva adquiriu um significado diferente para ela. Não era mais só o medo da enchente que arrasava tudo, aquele terror correndo atrás das roupas, dos móveis, das suas bonecas boiando na água _ tinha uma responsabilidade maior: o formigueiro.

Uma camaradagem silenciosa nasceu. Não havia muita conversa. Apenas a presença, o barulho da corrente do portão sendo aberto, os dois de cócoras olhando o formigueiro, a corrida com sacos plásticos na ameaça da chuva, os óculos embaçados e as formigas, sempre de carreirinha, umas atrás das outras, determinadas, na chuva ou no sol.

Quando mudou da viela e de vida, lá estava ele, no jardim dela, como sempre. Naquele dia o seu joelho parecia mais lascado, suas pernas mais compridas, seus olhos mais vesgos e seus óculos mais horríveis. Ela sentia uma coisa estranha, uma vontade de brigar com ele, de dizer desaforos, de cuspir no formigueiro, de manda-lo logo embora.

De repente, perguntou:

- E agora, suas formigas? Será que vão deixar você cuidar delas? Nem sei quem vai morar aqui...

- Vou dar um jeito.

- Mas o jardim não é mais meu! Não dá pra você fazer a mudança do formigueiro?

- Pra onde? Não tenho jardim... nem quintal...

- Como vai fazer?

- Não sei, vou pensar, de carreirinha.

- Mas as formigas nem sabem que você gosta delas...

- Não faz mal. Eu sei que gosto.

E sorriu de, de novo, naquele jeito de sorrir, curto. Um instante de sorriso com o tempo da eternidade. Sorriu todos os sorrisos, de uma vez só.

Nunca mais teve noticias do seu amigo formigueiro.

Demorou anos, em carreirinha, para compreender o menino de sorriso curto, que tinha um formigueiro de estimação num jardim, ainda que o jardim não fosse seu, e que sorria todos os sorrisos de uma só vez, ainda que a alegria não tivesse muito tempo e a dor viesse, de "carreirinha".

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Foi até à janela. Respirou fundo. O céu, ameaçador, prometia. Sorriu:

- A chuva ameaça chegar, de carreirinha. Onde coloquei meus óculos?

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Sandra Falcone na contra-mão
www.vidadeclaraluz.com.br

SAUDADE DUPLA


Luiza

e

Tom Jobim

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009



Sempre adiante.
Siga em frente!


Vãs palavras
estão nos vãos
do coração...
saindo pela boca...
nas suas mãos

domingo, 6 de dezembro de 2009


Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero, contradizendo-se a cada minuto
Desagradar a si próprio
Pela plena liberalidade de espírito
E amar as coisas como Deus.

Alvaro de Campos por Fernando Pessoa

sábado, 5 de dezembro de 2009

iceberg...


Iceberg
Berra
Berro
Quebra
Gela
gelo
Selo
Sela
O iceberg
Queima
Pele
Fogo
O gelo
partido
do iceberg
ao sul
forte
o corte
ao norte
importe
a sorte
importa
a porta

e o iceberg
.......

palavras que estou encontrando
escritas desde 1978.
tanto tempo faz.
apenas um resgate.
o tempo passa,
os sentimentos....
o iceberg
continua
e o que me importa agora é a porta...
....................

o vento


Os ponteiros do relógio se adiantam
Passam à frente do tempo.
Os sinos não tocam
Nem me tocam
os seus...
Soam no vento
que leva pra longe
o espasmo.
Fico esperando que o vento
passe por mim.

.............................

As palavras teimam
O gesto emudece
As veias saltam
O suor escorre
O coração arrebenta

A emoção aflita
Acompanha o vento
E sai pela janela

.......................

palavras ao vento


Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras

........por Marisa Monte e Morais Moreira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sintese da felicidade


Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E o carinho meu.

Mestre Drummond