domingo, 31 de janeiro de 2010

Prece



Transmutar
Transcender
Tele transportar
Discernir
Ressignificar
Dissociar
Desapegar
Desaguar
Desarmar
Amar

Que das palavras se façam
músicas
com ritmos
harmoniosos,
que espantem de vez
a tristeza
e a desarmonia do planeta

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

uma só..sô....



( foto de minha amiga soraya )

nos seus ombros e nuca
nunca...
culpas e pesos
nenhum...nenhuns
que a mente invente palavras
que inventem sempre
novos sentidos,
que sejam leves
e que levem você adiante...
sempre leve.
que o batom seja vermelho
mais vermelho que os seus lábios,
que ousem.
mais que a boca...
sempre solta, como sempre.
com sons que soem leve.
que a voz
tenha o tom médio necessário
ao seu equilíbrio, sem desgaste.
porque o tempo....
ah! o tempo!
ele desgasta,
a voz cansa,
o grito , até passa,
guarda...
o tempo,
ele conspira, sim,
se você permitir
que seja
a seu favor.
é preciso permitir....
e sorrir.
um sorriso lindo.
uma risada escandalosa,
que sai do fundo
do mais fundo
do seu imenso coração
de mãe.
que bate forte,
sente forte,
forte até demais.
cuida.
tem um encanto
e uma loucura,
uma doçura...
doce de mel
só seu,
só sua,
só sô.
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mistérios do bruxo


( foto de Ugo Perissinotto )

Quem me revela o segredo
guardado a sete chaves,
jogadas no mar?

Quem me abre o livro
com cinco cadeados
cravados, sem ar?

Quem me derruba as muralhas
que escondem as praias
e as ondas do mar?

Alguém há de chegar!

Que me abra o livro,
me conte os segredos,
me deixe nadar.

Porque a vida não espera.

Ela guarda as histórias,
palavras ...
que flutuam no vento,
nas páginas do tempo
que vai passar

Quem me conta os mistérios
que apenas um bruxo
com seu livro mágico
pode desvendar ?

.......................

sábado, 23 de janeiro de 2010

Alguém atrás da porta


( Foto de Ugo Perissinotto )

Não entre.
Nem bata na porta.
Me deixe descansar.

Se preferir insistir,
arrombe a porta de uma vez.
Faça um grande estrago,
sem premeditar.

A velha porta é forte
Já suportou trancos
e barrancos
do tempo que passou.

Eu?
Não importa.

Sem susto,
levantarei meio zonza,
andando devagar...

Ao entrar ,
procure uma cadeira pra sentar.
Se acalme.
Não fale comigo,
nem me olhe.
Espere.
Só preciso descansar

A porta?
Ah! a porta...
Depois damos um jeito,
com tempo,
de juntos consertar.
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Clarice




Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
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E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar.
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Não quero ter a terrível limitação
de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.

Clarice Lispector

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


(um presente de meu amigo e parceiro Ugo)

Grazie Ugo!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Poema agradecido


(tradizionale casera dell'epifania - foto de Ugo Perissinotto)

Não sei se é bruxaria,
dedo de anjo,
encantamento.
Os dias se revestem
de contentamento,
a magia se revela
em fotografias.
Palavras brincam livres,
improvisam
poesia.
No coração
um sentimento,
alegria.
Não sei se é bruxaria,
dedo de anjo,
encantamento.
Afago na alma,
amigo do peito,
é um presente.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

no varal


(foto de Ugo Perissinotto)

Pedalando no vento,
o momento
de pendurar a vida
no varal dos sonhos
deixar escorrer,
balançar...

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

sonhos da menina

A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho
risonho:

O vento sozinho
no seu carrinho.

De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho
de passarinho.

A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?

Cecília Meireles
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

momento florbela


( foto de ugo perissinotto )

nunca pensei em mim,
assim só.
porque uma flor
sempre tem seu beija flor.
nem pensei a solidão como companheira.
a solidão é um espelho
e reflete sem dó
o palhaço,
o equilibrista,
o trapezista,
e o mágico,
que, no picadeiro
das gavetas a arrumar
e dos armários
a limpar
inventa palavras
que se soltam
das roupas
e dos papéis antigos
a me desfazer.
melhor desfazer
e não ser florbela
que a dor espanca.
melhor cultivar a flor
bela.
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das cinzas


(foto de ugo perissinotto)


fagulhas escapam,
ressurgem
das cinzas mortas
do vulcão.
cinzas,
nem verdes, nem rosas,
algumas, cor de carvão.
fagulhas pipocam
vermelhas,
às vezes, azuis
e amarelas.
sem culpas,
nem consolo
explodem.
entre o pó
das cinzas
ainda
há vida.
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domingo, 3 de janeiro de 2010

lua cheia - hai kai 3



a lua cheia
entra pela janela
na rua ninguém vê

libélulas - hai kai 2



as libélulas
atravessaram mares
pousaram aqui

sábado, 2 de janeiro de 2010

o lobo - hai kai 1



seu vento forte
grita como um lobo
me traz a neve

Delírio Puro



Quanto mais louco, lúcido estou
no fundo do poço em que me banho
tem uma claridade que me namora
toda vez que vou ao fundo
me confundo quando bóio
me conformo quando nado
me convenço quando afundo
no fim do fundo
eu te amo.

Chacal
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Clown *


( Giulietta Masina - I Clowns, 1970 - Fellini )

Faço passar por mim,
sem ver...
me convenço.
É irreal.

Surreal,
clown,
como tudo,
como a vida,
como sempre.

Traço curvas,
ilusão de não encontrar...
quanto mais fujo,
encontro.

Me pinto de azul,
me faço palhaço,
pra distrair...

O palhaço me desperta
e ri.
Delicadamente ,
gargalha
na minha frente.

Mas eu me vingo,
em vão,
despindo a fantasia
que não era só minha.
relendo o script ...
ah!
esse não era meu.

Reconstruo a cena
pra desfazer
a marcação,
cada gesto,
cada toque...
a entonação,
cada pausa.

A platéia,
em silêncio,
participa ativamente
com olhares fulminantes
e sorrisos
calados.

Porque calar ,
a grande covardia,
é a arte maior
no imenso palco da vida.
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* "CLOWN - palavra inglesa (pronuncia-se cláun) que quer dizer rústico, rude, torpe, indicando quem com artificiosa torpeza faz o público rir. É o nosso palhaço.
É uma caricatura do homem como animal e criança, como enganado e enganador. É um espelho em que o homem se reflete de maneira grotesca, deformada, e vê a sua imagem torpe. É a sombra."
Frederico Fellini

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