sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Meu Olhar



     O meu olhar é nítido como um girassol.
     Tenho o costume de andar pelas estradas
     Olhando para a direita e para a esquerda,
     E, de vez em quando, olhando para trás...
     E o que vejo a cada momento
     É aquilo que nunca antes eu tinha visto
     E eu sei dar por isso muito bem...
     Sei ter o pasmo essencial
     Que tem uma criança se, ao nascer,
     Reparasse que nascera deveras...
     Sinto-me nascido a cada momento
     Para a eterna novidade do mundo...     
     Creio no mundo como num malmequer,
     Porque o vejo.  Mas não penso nele
     Porque pensar é não compreender ...
     O mundo não se fez para pensarmos nele
     (Pensar é estar doente dos olhos)                  
     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
     Mas porque a amo, e amo-a por isso,
     Porque quem ama nunca sabe o que ama
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
     Amar é a eterna inocência,
     E a única inocência não pensar...


    Alberto Caieiro




 

2 comentários:

Vital disse...

genial,
talvez porque ele nunca tenha pretendido a genialidade.

nesses momentos eu penso se devo mesmo escrever. se Pessoas como ele já não disseram tudo

e concluo então que a repetição de tentar criar e recriar é a própria eterna novidade do mundo.

um beijo.

Mariângela disse...

" Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais. "

beijo