terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Clarice
“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você, sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige."
Clarice Lispector
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2 comentários:
poxa vc me dá cada lição logo cedo!
"até costar os próprios defeitos pode ser perigoso..."
bem lembrada a clarice,
acho que li uma vez que ela escreveu isso depois de receber a crítica ao um dos seus livros.
bjo
dani
clarice é uma linda lição,. mesmo.
esse texto é de "uma carta, escrita em 1947, em Berna, Suiça e publicada por Caio F. de Abreu em 1995, onde autenticidade de Clarice Lispector é duvidosa. Mas ele mesmo comenta: "A beleza e o conteúdo de humanidade que a carta contém valem a pena a publicação..."
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